Técnica italiana e jeitinho mineiro fazem o inconfundível ‘queijo de Alagoa’
Pascoal Poppa e Luiza Atomare Poppa |
Em nenhum outro lugar consegue-se chegar ao sabor do queijo ‘tipo parmesão’
produzido em Alagoa, no sul de Minas Gerais. Apesar de não poder utilizar a
denominação ‘parmesão’ por causa do decreto que limita o uso do nome aos
queijos produzidos na Itália, o produto de Alagoa não perde em qualidade para
os das cidades italianas.
O decreto nº 2081 de 1992 proíbe a utilização do
nome ’parmesão’ para os queijos produzidos fora das regiões de Parma, Modena,
Reggio Emilia, Bologna e Matua, na Itália.
A história do queijo de Alagoa tem muitas versões, a mais contada pelos moradores surgiu há mais de cem anos, quando o italiano Pascoal Polpa percebeu que o clima da cidade era semelhante ao de sua terra natal. Alagoa faz parte da região serra da Mantiqueira, faz frio praticamente o ano inteiro, característica semelhante à região de Parma na Itália.
Pascoal começou a produzir o saboroso e famoso
queijo, complementando-o com um toquezinho mineiro. Depois dele, veio de
São Luis do Paraitinga, em São Paulo, Gumercindo Pereira Pinto, que também foi responsável
pelo aumento da fabricação do queijo de Alagoa, ele construiu duas fábricas. Em
1950, João Luis da Fonseca também iniciou a produção do queijo tipo parmesão no
povoado de Nogueira, difundindo ainda mais o que hoje já é tradição da cidade.
O produtor de leite, Eli Chaves, acredita que o
segredo do queijo de Alagoa está na consistência e no leite gordo. Segundo ele,
a temperatura mais amena, entre 14 e 20 graus, é propícia para a pastagem do
gado e contribui para a qualidade da matéria prima.
Sabor de quero mais
Foto: Divulgação |
Para fazer 1 kg do queijo de Alagoa gasta-se 10
litros de leite. A fabricação leva um dia, mas é preciso sete dias na salmoura
líquida e depois mais cinco numa mesa seca. Para ficar pronto são
aproximadamente 12 dias. O tipo curado leva ainda mais tempo, de dois a oito
meses na prateleira.
Entretanto, “o queijo está tão procurado que nem dá
tempo de maturar”, contou orgulho o produtor Eli Chaves.
O gestor de produção, Mário Martins, experimentou o queijo de Alagoa em uma apresentação realizada na “feira hippie”, em Belo Horizonte. Ele mora em Itabirito e costuma comprar o queijo pela Internet. “Não tem como descrever o sabor, é um produto diferente dos outros por causa do paladar e do frescor”, afirma Mário.
Segundo o engenheiro agrônomo da Empresa de
Assistência Técnica e Extensão Rural - MG, José Carlos Ematné, o queijo de Alagoa se diferencia porque é fabricado
de maneira artesanal. Isso conserva a tradição dos imigrantes italianos do século
XIX.
Uma das técnicas empregadas até hoje é a utilização
do fermento feito pelo próprio soro de um dia para o outro, chamado de isca. E
também, a maturação natural auxiliada pelo clima frio do município, cercado de
montanhas rochosas. “O queijo de Alagoa quando maturado possui características
próprias, apresenta sabor levemente picante, de coloração amarelada e de
consistência firme”, explica o engenheiro agrônomo.
“A fama do queijo de nossa
cidade vai muito além dessas montanhas altas, ultrapassando fronteiras, levando
um sabor diferenciado para pessoas de diversos lugares”, afirma o prefeito de
Alagoa, Sebastião Mendes Pinto Neto.
Para quem ficou com água na boca, vale a pena
visitar a cidade para provar a iguaria ou
acessar o site www.queijodalagoa.ning.com e
encomendar a peça.
Atestado de qualidade
A prefeitura da cidade está buscando a certificação
do queijo junto aos órgãos responsáveis. As chuvas do início do ano interromperam
o processo, que foi retomado no segundo semestre. De acordo com
o engenheiro agrônomo da EMATER-MG, a certificação
é importante por atestar a originalidade do queijo de Alagoa em relação aos
demais, além de se enquadrar nas normas sanitárias e oferecer ao consumidor um
produto de qualidade e garantia da procedência.
O prefeito da cidade informa que o queijo movimenta economia local, estimula o comércio de ração e remédios veterinários, gera emprego e renda na zona rural.
Dia Municipal do Queijo e do Queijeiro
Devido à importância do queijo para a cidade foi criada uma lei Municipal que intitulou o quarto sábado do mês de maio como o Dia Municipal do Queijo e do Queijeiro de Alagoa. Para comemorar esse dia é realizado um Festival com o objetivo de destacar a produção do queijo parmesão de Alagoa e valorizar os produtores.
Esse ano o homenageado foi o aposentado Salvador Afonso da Silva, conhecido como ‘Dô’. Durante muito tempo o aposentado foi queijeiro da maior qualidade. Aprendeu o ofício com o pai quando ainda era menino. “Fiquei muito alegre com a homenagem, a minha família ficou satisfeita porque o queijo de Alagoa é famoso e muito bom”, contou animado. “O segredo do nosso queijo é que ele é bem feitinho, e com amor”, acrescenta.
*Matéria publicada na Revista de Minas.
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